segunda-feira, 18 de junho de 2012

dr. J. H. Kellogg e a crise panteísta


Como vimos, existe uma forma de explicar a Trindade que é rejeitada pelo Espírito de Profecia e outra que recebe o seu apoio. Na crise panteísta que a igreja enfrentou entre os anos de 1902 e 1907 esse contraste fica mais claro. Como aconteceu essa crise?
Em 1901 a igreja adventista passou por uma grande reestruturação administrativa. Na Assembléia Geral daquele ano foi criado um novo nível de administração da igreja. Quando ela foi organizada em 1863 existiam apenas as Associações, que reuniam um grupo de igrejas de uma região, e a Associação Geral, que administrava toda a igreja. A medida que a igreja crescia esse modelo não era suficiente para agilizar as decisões de uma organização que estava em franca expansão. Na Austrália o pr. A. G. Daniells (1858-1935) havia adotado um modelo administrativo que foi um sucesso. Ele uniu as Associações do seu campo e formou uma União, um estágio intermediário entre a Associação Geral e as Associações. Na Assembléia de 1901 esse modelo foi adotado pela obra mundial. Além disso, foi feito um esforço para que os departamentos e instituições da igreja ficassem debaixo da tutela da Associação Geral. Apesar de todos os esforços, a obra de saúde não se sujeitou a essa mudança administrativa e isso colocou em risco a unidade da igreja. O grande responsável por essa crise administrativa foi o dr. J. H. Kellogg (1852-1943).
No início do século XX, o dr. Kellogg era a estrela mais brilhante da constelação de líderes adventitas. Homem de múltiplos talentos era diretor da maior instituição adventista da época o Sanatório de Battle Creek. Sob sua direção essa instituição começou a se afastar da denominação, tanto na doutrina quanto na sua administração. Deus revelou seu desagrado com os rumos que a obra médico-missionária estava tomando permitindo que o sanatório pegasse fogo. Isso aconteceu em 18 de fevereiro de 1902.i O dr. Kellogg estava de viagem e quando ele soube da tragédia no mesmo momento ele começou a traçar os planos para a sua reconstrução.
Ele levou para a igreja um projeto que a princípio foi recebido. Sua idéia era escrever uma obra sobre saúde que seria publicado pela igreja. A tiragem de meio milhão de exemplares seria vendida por cada membro da organização ao valor de um dólar. A soma arrecadada seria suficiente para pagar as dívidas de outras instituições de saúde da igreja e reconstruir o sanatório que o fogo havia destruído. O livro, chamado The Living Temple [O templo vivo] trazia noções de fisiologia e anatomia, hábitos de vida saudável e tratamentos naturais simples.
Quando o livro já estava na gráfica, no dia 30 de dezembro de 1902 um incêndio destruiu completamente a editora Review and Herald Publishing Association. Esse novo desastre não impediu que o dr. Kellogg tomasse a iniciativa de publicar o livro por conta própria. Quando o livro começou a circular provocou comoção entre os adventistas. Suas idéias panteístas, que estavam adormecidas a vinte anos, vieram a tona.
Ellen G. White fez forte oposição a essa heresia, que ela chamou de “Alfa da apostasia”. Ela advertiu a igreja de que nos momentos finais da história do Grande conflito ela sofreria outra crise, que ela denominou de “Ômega da apostasia”.

Não vos enganeis; muitos se afastarão da fé, dando ouvidos a espíritos sedutores e doutrinas de demônios. Temos agora perante nós o alfa desse perigo. O ômega será de natureza mais assustadora.” 1ME 197.
Silas Jäkel, no folheto O Alfa e o Ômega da apostasia, tenta provar que o erro do Dr. J. H. Kellogg foi ensinar a doutrina da Trindade. Segundo o autor “fica evidente a todos nós o que foi a Alfa das heresias, foi exatamente a crença na Santíssima Trindade Católica.”ii Sendo assim, o Ômega da apostasia seria a aceitação da doutrina da Trindade pela igreja, como acontece hoje.iii Como vimos, essa releitura da crise Panteísta que afligiu a Igreja Adventista há mais de cem anos não é apoiada nem pelos fatos e nem pelo Espírito de Profecia. Ellen White comparou as crises do passado com a que a igreja estava enfrentando com o dr. Kellogg. Nessa crise, ela explica que foi “chamada a repreender os que apresentavam a doutrina de um deus impessoal”. Ev 600. O panteísmo nega a personalidade de Deus. O problema então não era a doutrina da Trindade, mas a forma como essa doutrina era explica pelo dr. Kellogg.
Basta uma leitura atenta da descrição que Ellen White faz dessa crise para perceber que ela era contra uma visão espiritualizada da Divindade:

Fui instruída a dizer: Os sentimentos dos que andam em busca de avançadas idéias científicas, não são para confiar. Fazem-se definições como essas: ‘O Pai é como a luz invisível; o Filho é como a luz corporificada; o Espírito é a luz derramada.’ ‘O Pai é como o orvalho, vapor invisível; o Filho é como o orvalho condensado em uma bela forma; o Espírito é como o orvalho caído sobre a sede da vida.’ Outra apresentação: ‘O Pai é como o vapor invisível; o Filho como a nuvem plúmbea; o Espírito é chuva caída e operando em poder refrigerante.’
Todas essas definições espiritualistas são simplesmente nada. São imperfeitas, inverídicas. Enfraquecem e diminuem a Majestade a que não pode ser comparada nenhuma semelhança terrena. Deus não pode ser comparado a coisas feitas por Suas mãos. Estas são meras coisas terrenas, sofrendo sob a maldição de Deus por causa dos pecados do homem. O Pai não pode ser definido por coisas da Terra.

Essa explicação de Deus, que utiliza elementos da natureza, caracterizava a teologia panteísta do dr. Kellogg. Depois de chamar essas explicações de “espiritualistas”, Ellen White define o que ela entendia como sendo verdade sobre a divindade:

O Pai é toda a plenitude da Divindade corporalmente, e invisível aos olhos mortais.
O Filho é toda a plenitude da Divindade manifestada. A Palavra de Deus declara que Ele é ‘a expressa imagem da Sua pessoa’. Hb 1.3. ‘Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha vida eterna.’ Jo 3.16. Aí se manifesta a personalidade do Pai.
O Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é o Espírito em toda a plenitude da Divindade, tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e crêem em Cristo como um Salvador pessoal. Há três pessoas vivas pertencentes à Trindade celeste; em nome destes três grandes poderes - o Pai, o Filho e o Espírito Santo - os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus esforços para viver a nova vida em Cristo. Ev 614, 615.

Sobre os três membros da divindade ela afirma a mesma coisa: cada um deles “é toda plenitude da divindade”, ou seja, encontramos em cada um dEles os atributos de Deus. Suas palavras são muito claras e exclui qualquer mal entendido sobre o que ela rejeitava e o que ela aceitava sobre a Trindade.
Fonte: Em defesa do Espírito Santo de Alexandre Araujo


Nenhum comentário:

Postar um comentário