quinta-feira, 21 de março de 2013

Mateus 19:9. É o Casamento um Concerto Vitalicio?


O casamento é um acordo ou concerto que se faz por toda a vida. No entanto, parece que mesmo no meio evangélico algumas pessoas tem questionado esta questão. Alguns o fazem com base na passagem de Mateus 19:9, que diz:

“ Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.”

O ponto destacado: “não sendo por causa de prostituição”, na mente de muitos, parece deixar uma cláusula de exceção sob a qual poderia-se contrair novas núpcias. Ou seja, segundo esta passagem, se houver prostituição, o marido pode então deixar sua esposa e contrair um novo casamento. Porém, devemos enfatizar que Jesus não estava referindo-se ao marido e a mulher legalmente casados e que construíram uma vida juntos, ou que viveram por determinado tempo.

A expresão grega, utilizada pelo escritor sagrado, a qual foi traduzida por “prostituição” é “Pornéia”. O léxico do novo testamento grego traduz esta palavra da seguinte forma: “Pornéia: Prostituição.” Existe outra palavra grega “Moicheia” que é traduzida corretamente por “Adultério”. Estas palavras são traduzidas de formas distintas em vários textos da Bíblia. Vejamos:

“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério(Moicheia), prostituição(Pornéia), impureza, lascívia.” Gálatas 5:19. 

Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios(Moicheia), prostituição(Pornéia), furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Mateus 15:19.

A Bíblia faz desta forma, distinção entre adultério e prostituição. O Adultério, como todos sabem, ocorre entre pessoas casadas, já a prostituição, segundo a Palavra de Deus, ocorre entre pessoas solteiras. Portanto, o “não sendo por causa de prostituição (pornéia)” é uma cláusula de exceção para os solteiros, não para os casados. Caso contrário, se o texto sagrado estivesse referindo-Se aos casados, ele teria dito: “não sendo por por causa de MOICHEIA (adultério)”, o que ele, no entanto, não o fez. Algumas versões da Bíblia utilizam a palavra adultério em Mateus 19:9, mas não é tradução correta, pois ali a palavra grega (Pornéia) exige a palavra “prostituição” como sendo a tradução correta.

Esta diferença entre prostituição e adultério é bem patente também algumas vezes nas escrituras hebraicas. Um exemplo disso, nós encontramos em Oseias 4:13-14:

“... por isso vossas filhas se prostituem, e as vossas noras adulteram. ...Eu não castigarei vossas filhas, quando se prostituem, nem vossas noras, quando adulteram.” 

Por que as filhas se prostituem? Por que são solteiras! E as noras, por que adulteram? Lógico, por que são casadas!

O que alguns questionam é que o relato contextual de Mateus 19 parece se referir a pessoas casadas como demonstrado na pergunta dos fariseus (Mateus 19:3). Sendo assim, a cláusula de exceção mencionada no versículo 9 que, segundo o texto grego, se refere aos solteiros, não pode ser aplicada para marido e mulher legalmente casados!

Mas resta uma questão: No próprio versículo 9, Jesus parece referir-Se a uma questão matrimonial ao mencionar:  “qualquer que repudiar sua mulher...”

Por que então Jesus usou a expressão “repudiar sua mulher...” se ele não estava falando de pessoas casadas, mas de pessoas solteiras ao usar a palavra prostituição (Pornéia)?

Devemos entender que o conceito de marido e mulher hoje no ocidente é bem diferente do conceito que imperava no oriente no tempo de Jesus. Entendemos hoje que marido e mulher são pessoas legalmente casadas segundo as leis do país e que se comprometeram viver para sempre um ao lado do outro, ou que assim já vivem. No oriente, este conceito era um pouco diferente. Vejamos:

“Então disseram aqueles homens a Ló: Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar; ...Então saiu Ló, e falou a seus genros, aos que haviam de tomar as suas filhas, e disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o SENHOR há de destruir a cidade. Foi tido porém por zombador aos olhos de seus genros.” Gên. 19:12,14.

Genros que ainda não haviam casado! Eram solteiros, mas já considerados maridos das filhas de Ló!

Outro exemplo clássico:

“Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo.” Mateus 1:18-20.

É fácil perceber no texto que Maria e José ainda não se haviam ajuntado, ou seja, eles não viviam como marido e mulher. Eles não estavam legalmente casados, porém, já eram considerados como marido e mulher! Percebamos, o que José era de Maria? Resposta: Marido! E o que Maria era de José? Esposa!

Na verdade era como se fossem noivos, mas um noivado muito mais comprometido do que os que conhecemos em nossos dias. Neste noivado ambos eram considerados marido e mulher!

O que ocorreria se, neste período, a moça, por exemplo, traísse seu noivo ou o seu já considerado esposo? Neste caso o noivo, o já considerado marido, poderia deixa-la e se casar livremente com outra pessoa! Se lermos o relato de Mateus percebemos que foi isto que José pensou em fazer, só não o fez porque o anjo não permitiu (Mateus 1:19,20).

Segundo o texto de Mateus 19:9, Jesus estava mostrando que, em caso de prostituição durante aquele noivado, era permitido ao já considerado marido repudiar sua já considerada mulher e se casar com quem desejasse.

Os judeus sabiam e conheciam as circunstâncias do nascimento de Cristo. Sabiam que Maria havia ficado grávida antes de ser dada a José. Por isso, disseram a Jesus certa ocasião:

“Disseram-lhe, pois: Nós não somos nascidos de prostituição (Pornéia) ; temos um Pai, que é Deus.” João 8:41.

“Jesus negou que os judeus fossem filhos de Abraão. Disse: "Vós fazeis as obras de vosso pai." Em zombaria, responderam: "Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus." João 8:41. Estas palavras, em alusão às circunstâncias de Seu nascimento, foram atiradas como uma estocada contra Cristo, em presença dos que começavam a nEle crer.” O Desejado de Todas as Nações, pág. 467.

Desta forma, a regra de exceção não favorece aqueles que são legalmente casados e que já viveram com a esposa. Neste caso, para os que já têm uma vida juntos, que já se ajuntaram, a regra é a que encontramos em Lucas 16:18:

Qualquer que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.” Lucas 16:18.

Não pode haver contradição nas palavras de Cristo em Mateus 19:9  com as de Lucas 16:18, como realmente cremos não existir. Se o fulano "A" deixou da fulana "B" e se casou com a fulana "C", ambos, a saber, "A" + "C" estarão em pecado de adultério. A fulana "B" que é a parte inocente, a qual foi deixada ou abandonada pelo fulano "A", se ela vier se casar com outro, digamos o fulano "D", estarão, a saber "B" + "D" também em adultério.
Paulo reafirma esta verdade, da seguinte forma:

Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido, livre está da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido.” Romanos 7:2,3.

“Todavia, aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.”  I Coríntios 7:10-11.

“A mulher casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no Senhor.” I Corintios 7:39.

Somente em face da morte, portanto, pode haver a dissolução do voto matrimonial.

Quando os discípulos ouviram que para os casados não existia nenhuma regra de exceção, que “o que Deus ajuntou não o separe o homem”, que Deus deu apenas uma mulher para Adão, (Mateus 19:4-6) disseram:

“...Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.” Mateus 19:10.

Jesus continuou:

Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.” Mateus 19:11.

Baseado nisto, eu compreendo por que alguns não compreendem e nem aceitam esta questão.

Mas continuou o Mestre:

“Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.” Mateus 19:12.

Eunucos que se castraram a si mesmo por causa do reino do Céu. Ou seja, se não se tornassem eunucos, se se casassem novamente, perderiam o reino de Deus! Somente na igreja de Deus se encontra tais eunucos!

“Quem pode receber isto, receba-o.”!

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