Como
vimos, existe uma forma de explicar a Trindade que é rejeitada pelo
Espírito de Profecia e outra que recebe o seu apoio. Na crise
panteísta que a igreja enfrentou entre os anos de 1902 e 1907 esse
contraste fica mais claro. Como aconteceu essa crise?
Em
1901 a igreja adventista passou por uma grande reestruturação
administrativa. Na Assembléia Geral daquele ano foi criado um novo
nível de administração da igreja. Quando ela foi organizada em
1863 existiam apenas as Associações, que reuniam um grupo de
igrejas de uma região, e a Associação Geral, que administrava toda
a igreja. A medida que a igreja crescia esse modelo não era
suficiente para agilizar as decisões de uma organização que estava
em franca expansão. Na Austrália o pr. A. G. Daniells (1858-1935)
havia adotado um modelo administrativo que foi um sucesso. Ele uniu
as Associações do seu campo e formou uma União, um estágio
intermediário entre a Associação Geral e as Associações. Na
Assembléia de 1901 esse modelo foi adotado pela obra mundial. Além
disso, foi feito um esforço para que os departamentos e instituições
da igreja ficassem debaixo da tutela da Associação Geral. Apesar de
todos os esforços, a obra de saúde não se sujeitou a essa mudança
administrativa e isso colocou em risco a unidade da igreja. O grande
responsável por essa crise administrativa foi o dr. J. H. Kellogg
(1852-1943).
No
início do século XX, o dr. Kellogg era a estrela mais brilhante da
constelação de líderes adventitas. Homem de múltiplos talentos
era diretor da maior instituição adventista da época o Sanatório
de Battle Creek. Sob sua direção essa instituição começou a se
afastar da denominação, tanto na doutrina quanto na sua
administração. Deus revelou seu desagrado com os rumos que a obra
médico-missionária estava tomando permitindo que o sanatório
pegasse fogo. Isso aconteceu em 18 de fevereiro de 1902.i
O dr. Kellogg estava de viagem e quando ele soube da tragédia no
mesmo momento ele começou a traçar os planos para a sua
reconstrução.
Ele
levou para a igreja um projeto que a princípio foi recebido. Sua
idéia era escrever uma obra sobre saúde que seria publicado pela
igreja. A tiragem de meio milhão de exemplares seria vendida por
cada membro da organização ao valor de um dólar. A soma arrecadada
seria suficiente para pagar as dívidas de outras instituições de
saúde da igreja e reconstruir o sanatório que o fogo havia
destruído. O livro, chamado The
Living Temple
[O templo vivo] trazia noções de fisiologia e anatomia, hábitos de
vida saudável e tratamentos naturais simples.
Quando
o livro já estava na gráfica, no dia 30 de dezembro de 1902 um
incêndio destruiu completamente a editora Review
and Herald Publishing Association.
Esse novo desastre não impediu que o dr. Kellogg tomasse a
iniciativa de publicar o livro por conta própria. Quando o livro
começou a circular provocou comoção entre os adventistas. Suas
idéias panteístas, que estavam adormecidas a vinte anos, vieram a
tona.
Ellen
G. White fez forte oposição a essa heresia, que ela chamou de “Alfa
da apostasia”. Ela advertiu a igreja de que nos momentos finais da
história do Grande conflito ela sofreria outra crise, que ela
denominou de “Ômega da apostasia”.
“Não
vos enganeis; muitos se afastarão da fé, dando ouvidos a espíritos
sedutores e doutrinas de demônios. Temos agora perante nós o alfa
desse perigo. O ômega será de natureza mais assustadora.” 1ME
197.
Silas
Jäkel, no folheto O
Alfa e o Ômega da apostasia,
tenta provar que o erro do Dr. J. H. Kellogg foi ensinar a doutrina
da Trindade. Segundo o autor “fica evidente a todos nós o que foi
a Alfa das heresias, foi exatamente a crença na Santíssima Trindade
Católica.”ii
Sendo assim, o Ômega da apostasia seria a aceitação da doutrina da
Trindade pela igreja, como acontece hoje.iii
Como vimos, essa releitura da crise Panteísta que afligiu a Igreja
Adventista há mais de cem anos não é apoiada nem pelos fatos e nem
pelo Espírito de Profecia. Ellen White comparou as crises do passado
com a que a igreja estava enfrentando com o dr. Kellogg. Nessa crise,
ela explica que foi “chamada a repreender os que apresentavam a
doutrina de um deus
impessoal”.
Ev 600. O panteísmo nega a personalidade de Deus. O problema então
não era a doutrina da Trindade, mas a forma como essa doutrina era
explica pelo dr. Kellogg.
Basta
uma leitura atenta da descrição que Ellen White faz dessa crise
para perceber que ela era contra uma visão espiritualizada da
Divindade:
“Fui
instruída a dizer: Os sentimentos dos que andam em busca de
avançadas idéias científicas, não são para confiar. Fazem-se
definições como essas: ‘O Pai é como a luz invisível; o Filho é
como a luz corporificada; o Espírito é a luz derramada.’ ‘O Pai
é como o orvalho, vapor invisível; o Filho é como o orvalho
condensado em uma bela forma; o Espírito é como o orvalho caído
sobre a sede da vida.’ Outra apresentação: ‘O Pai é como o
vapor invisível; o Filho como a nuvem plúmbea; o Espírito é chuva
caída e operando em poder refrigerante.’
“Todas
essas definições espiritualistas são simplesmente nada. São
imperfeitas, inverídicas. Enfraquecem e diminuem a Majestade a que
não pode ser comparada nenhuma semelhança terrena. Deus não pode
ser comparado a coisas feitas por Suas mãos. Estas são meras coisas
terrenas, sofrendo sob a maldição de Deus por causa dos pecados do
homem. O Pai não pode ser definido por coisas da Terra.
Essa
explicação de Deus, que utiliza elementos da natureza,
caracterizava a teologia panteísta do dr. Kellogg. Depois de chamar
essas explicações de “espiritualistas”, Ellen White define o
que ela entendia como sendo verdade sobre a divindade:
“O
Pai é toda a plenitude
da Divindade
corporalmente, e invisível aos olhos mortais.
“O
Filho é
toda a plenitude da Divindade
manifestada. A Palavra de Deus declara que Ele é ‘a expressa
imagem da Sua pessoa’. Hb 1.3. ‘Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê
não pereça, mas tenha vida eterna.’ Jo 3.16. Aí se manifesta a
personalidade do Pai.
“O
Consolador que Cristo prometeu enviar depois de ascender ao Céu, é
o Espírito em
toda a plenitude da Divindade,
tornando manifesto o poder da graça divina a todos quantos recebem e
crêem em Cristo como um Salvador pessoal. Há
três pessoas vivas pertencentes à Trindade celeste;
em nome destes três grandes poderes - o Pai, o Filho e o Espírito
Santo - os que recebem a Cristo por fé viva são batizados, e esses
poderes cooperarão com os súditos obedientes do Céu em seus
esforços para viver a nova vida em Cristo. Ev 614, 615.
Sobre
os três membros da divindade ela afirma a mesma coisa: cada um deles
“é toda plenitude da divindade”, ou seja, encontramos em cada um
dEles os atributos de Deus. Suas palavras são muito claras e exclui
qualquer mal entendido sobre o que ela rejeitava e o que ela aceitava
sobre a Trindade.
Fonte: Em defesa do Espírito Santo de Alexandre Araujo
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