O casamento é um acordo ou concerto que se
faz por toda a vida. No entanto, parece que mesmo no meio evangélico algumas
pessoas tem questionado esta questão. Alguns o fazem com base na
passagem de Mateus 19:9, que diz:
“ Eu vos
digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição,
e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também
comete adultério.”
O ponto destacado: “não sendo por causa de prostituição”, na mente de muitos, parece
deixar uma cláusula de exceção sob a qual poderia-se contrair novas núpcias. Ou
seja, segundo esta passagem, se houver prostituição, o marido pode então deixar
sua esposa e contrair um novo casamento. Porém, devemos enfatizar que Jesus não
estava referindo-se ao marido e a mulher legalmente casados e que construíram
uma vida juntos, ou que viveram por determinado tempo.
A expresão grega, utilizada pelo escritor
sagrado, a qual foi traduzida por “prostituição”
é “Pornéia”. O léxico do novo
testamento grego traduz esta palavra da seguinte forma: “Pornéia: Prostituição.” Existe outra palavra grega “Moicheia” que é traduzida corretamente
por “Adultério”. Estas palavras são
traduzidas de formas distintas em vários textos da Bíblia. Vejamos:
“Porque as
obras da carne são manifestas, as quais são: adultério(Moicheia), prostituição(Pornéia),
impureza, lascívia.” Gálatas 5:19.
“Porque
do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios(Moicheia),
prostituição(Pornéia), furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” Mateus
15:19.
A Bíblia faz desta forma, distinção entre
adultério e prostituição. O Adultério, como todos sabem, ocorre entre pessoas casadas, já a prostituição, segundo a Palavra de Deus, ocorre entre pessoas solteiras.
Portanto, o “não sendo por causa de prostituição
(pornéia)” é uma cláusula de exceção para os solteiros, não para os casados.
Caso contrário, se o texto sagrado estivesse referindo-Se aos casados, ele teria dito: “não sendo por por causa de MOICHEIA (adultério)”, o
que ele, no entanto, não o fez. Algumas versões da Bíblia utilizam a palavra
adultério em Mateus 19:9, mas não é tradução correta, pois ali a palavra grega (Pornéia) exige a palavra “prostituição” como sendo a tradução correta.
Esta diferença entre prostituição e adultério
é bem patente também algumas vezes nas escrituras hebraicas. Um exemplo disso, nós encontramos em Oseias 4:13-14:
“... por
isso vossas filhas se prostituem, e as vossas noras adulteram. ...Eu não
castigarei vossas filhas, quando se prostituem, nem vossas noras, quando
adulteram.”
Por que as filhas se prostituem? Por que são
solteiras! E as noras, por que adulteram? Lógico, por que são casadas!
O que alguns questionam é que o relato
contextual de Mateus 19 parece se referir a pessoas casadas como demonstrado na
pergunta dos fariseus (Mateus 19:3). Sendo assim, a cláusula de exceção
mencionada no versículo 9 que, segundo o texto grego, se refere aos solteiros,
não pode ser aplicada para marido e mulher legalmente casados!
Mas resta uma questão: No próprio
versículo 9, Jesus parece referir-Se a uma questão matrimonial ao mencionar: “qualquer que repudiar sua mulher...”
Por que então Jesus usou a expressão “repudiar sua mulher...” se ele não
estava falando de pessoas casadas, mas de pessoas solteiras ao usar a palavra
prostituição (Pornéia)?
Devemos entender que o conceito de marido e
mulher hoje no ocidente é bem diferente do conceito que imperava no oriente no
tempo de Jesus. Entendemos hoje que marido e mulher são pessoas legalmente
casadas segundo as leis do país e que se comprometeram viver para sempre um
ao lado do outro, ou que assim já vivem. No oriente, este conceito era um pouco
diferente. Vejamos:
“Então
disseram aqueles homens a Ló: Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens nesta
cidade, tira-os fora deste lugar; ...Então saiu Ló, e falou a seus genros, aos que haviam de tomar as
suas filhas, e disse: Levantai-vos, saí deste lugar, porque o SENHOR há
de destruir a cidade. Foi tido porém por zombador aos olhos de seus genros.” Gên.
19:12,14.
Genros que ainda não haviam casado! Eram
solteiros, mas já considerados maridos das filhas de Ló!
Outro exemplo clássico:
“Ora, o
nascimento de Jesus Cristo foi assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com
José, antes de se ajuntarem,
achou-se ter concebido do Espírito Santo. Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou
deixá-la secretamente. E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um
anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está
gerado é do Espírito Santo.” Mateus 1:18-20.
É fácil perceber no texto que Maria e José
ainda não se haviam ajuntado, ou seja, eles não viviam como marido e mulher.
Eles não estavam legalmente casados, porém, já eram considerados como marido e mulher!
Percebamos, o que José era de Maria? Resposta: Marido! E o que Maria era de
José? Esposa!
Na verdade era como se fossem noivos, mas um
noivado muito mais comprometido do que os que conhecemos em nossos dias. Neste
noivado ambos eram considerados marido e mulher!
O que ocorreria se, neste período, a moça,
por exemplo, traísse seu noivo ou o seu já considerado esposo? Neste caso o noivo,
o já considerado marido, poderia deixa-la e se casar livremente com outra
pessoa! Se lermos o relato de Mateus percebemos que foi isto que José pensou em
fazer, só não o fez porque o anjo não permitiu (Mateus 1:19,20).
Segundo o texto de Mateus 19:9, Jesus estava
mostrando que, em caso de prostituição durante aquele noivado, era
permitido ao já considerado marido repudiar sua já considerada mulher e se casar com quem desejasse.
Os judeus sabiam e conheciam as
circunstâncias do nascimento de Cristo. Sabiam que Maria havia ficado grávida
antes de ser dada a José. Por isso, disseram a Jesus certa ocasião:
“Disseram-lhe,
pois: Nós não somos nascidos de
prostituição (Pornéia) ; temos um Pai, que é Deus.” João 8:41.
“Jesus negou
que os judeus fossem filhos de Abraão. Disse: "Vós fazeis as obras de
vosso pai." Em zombaria, responderam:
"Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é
Deus." João 8:41. Estas palavras, em alusão às circunstâncias de Seu
nascimento, foram atiradas como uma estocada contra Cristo, em presença dos que
começavam a nEle crer.” O Desejado de Todas as Nações, pág. 467.
Desta
forma, a regra de exceção não favorece
aqueles que são legalmente casados e que já viveram com a esposa. Neste
caso, para os que já têm uma vida juntos, que já se ajuntaram, a regra é
a que
encontramos em Lucas 16:18:
“Qualquer
que deixa sua mulher, e casa com outra, adultera; e aquele que casa com a repudiada pelo marido, adultera também.”
Lucas 16:18.
Não
pode haver contradição nas palavras de
Cristo em Mateus 19:9 com as de Lucas
16:18, como realmente cremos não existir. Se o fulano "A" deixou da
fulana "B" e se casou com a fulana "C", ambos, a saber, "A" +
"C" estarão em pecado de adultério. A fulana "B" que é a parte inocente,
a qual foi deixada ou abandonada pelo fulano "A", se ela vier se casar
com outro, digamos o fulano "D", estarão, a saber "B" + "D" também em
adultério.
Paulo reafirma esta verdade, da seguinte
forma:
“Porque
a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela
lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o
marido, será chamada adúltera se for de outro marido; mas, morto o marido,
livre está da lei, e assim não será adúltera, se for de outro marido.” Romanos
7:2,3.
“Todavia,
aos casados mando, não eu mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido.
Se, porém, se apartar, que fique sem casar, ou que se reconcilie com o marido;
e que o marido não deixe a mulher.” I
Coríntios 7:10-11.
“A mulher
casada está ligada pela lei todo o tempo que o seu marido vive; mas, se falecer
o seu marido fica livre para casar com quem quiser, contanto que seja no
Senhor.”
I Corintios 7:39.
Somente em face da morte, portanto, pode
haver a dissolução do voto matrimonial.
Quando os discípulos ouviram que para os
casados não existia nenhuma regra de exceção, que “o que Deus ajuntou não o separe o homem”, que Deus deu apenas uma
mulher para Adão, (Mateus 19:4-6) disseram:
“...Se assim
é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar.” Mateus 19:10.
Jesus continuou:
“Nem todos podem receber esta palavra,
mas só aqueles a quem foi concedido.” Mateus 19:11.
Baseado nisto, eu compreendo por que alguns
não compreendem e nem aceitam esta questão.
Mas continuou o Mestre:
“Porque há
eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados
pelos homens; e há eunucos que se
castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto,
receba-o.”
Mateus 19:12.
Eunucos que se castraram a si
mesmo por causa do reino do Céu. Ou seja, se não se tornassem eunucos, se se
casassem novamente, perderiam o reino de Deus! Somente na igreja de Deus se
encontra tais eunucos!
“Quem pode receber isto,
receba-o.”!
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