Com influência no sistema nervoso central e no sistema límbico, a teobromina e a cafeína podem causar dependência
Aos seis anos de idade, Angela Maria Lemos, provou pela primeira vez a
substância que um dia a deixaria viciada. Foi com as primas, tomando
leite tirado na hora, que ela aprendeu que café era para a vida toda. No
começo, ele ia misturado ao leite quente de vaca. Mas depois de anos de
aprendizado, a bebida acabou como a dona do desjejum – e do dia. “Tomo
café em jejum, só depois eu como alguma coisa”, afirma. E quando arrisca
pular a xícara diária, uma dor de cabeça incômoda atormenta as horas
que seguem. “Eu fico indisposta e minha cabeça fica estranha, depois
começa a latejar de tanta dor.” Assim como Angela, hoje com 55 anos,
milhares de pessoas têm algum tipo de vício em alimento, um mal
responsável por sintomas prejudiciais à saúde e ao convívio social. E
não é apenas a cafeína que tem efeitos similares aos de um vício.
Engrossam a lista as guloseimas preferidas de mulheres com TPM (tensão
pré-menstrual) e das crianças: chocolate e açúcar.
Mas, se mesmo podendo viciar, esses alimentos continuam a ser vendidos
em qualquer esquina, o motivo é bem simples: os cientistas ainda não
chegaram a um consenso sobre eles. O único ponto de acordo é que algumas
substâncias podem, sim, causar dependência. Porém, na maioria das
vezes, apenas psicológica. “A cafeína, no entanto, tem ação associada ao
sistema nervoso central. Ela é um estimulante e atua deixando a pessoa
mais disposta, com melhora no raciocínio e na concentração”, afirma João
César Castro Soares, endocrinologista e nutrólogo da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp). O chocolate e o açúcar, por sua vez,
atuam diretamente no sistema límbico (responsável pelas emoções),
estimulando a produção de serotonina. Apesar desses vícios ainda não
terem sido equiparados a outros, como o fumo e ao alcoolismo, a falta
deles pode trazer sintomas típicos de abstinência – como a impertinente
dor de cabeça de Angela.
Confira abaixo os motivos pelos quais café, chocolate e açúcar podem significar um risco à saúde quando consumidos em demasia.
Café –
A cafeína age diretamente no sistema nervoso central. Por ter
capacidade de chegar à corrente sanguínea, ela atinge o córtex cerebral
exercendo efeitos como redução da fadiga e uma melhora na concentração e
na capacidade de pensamento. Entre os sintomas de abstinência da
cafeína estão dor de cabeça, tremedeira, tontura, aumento da ansiedade e
fraqueza. Há estudos, no entanto, que compravam que até quatro xícaras
da bebida por dia são benéficas e podem ter ação antioxidante e
vasodilatadora.
Excesso de café: pode aumentar a frequência cardíaca e causar insônia e palpitações.
Chocolate –
A teobromina, uma substância presente neste doce, estimula a produção
do neurotransmissor serotonina, que proporciona uma sensação de prazer e
bem-estar. “Minha produtividade no trabalho está atrelada ao consumo de
chocolate. Se não como, parece que meu cérebro fica sem energia”, conta
a advogada Mariana Veiga, 25 anos. De acordo com o endocrinologista
Walmir Coutinho, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia, existem estudos que apontam que a região do cérebro ativada
com o consumo do chocolate é a mesma afetada em um dependente de
cocaína. O alimento é tão eficiente em proporcionar prazer (e viciar),
que, contam os registros históricos, já foi relacionado com forças ditas
malignas. “No século 16, os jesuítas deixaram escrito que a bebida
feita de cacau consumida pelos nativos era uma coisa do demônio. Isso
porque eles não conseguiam parar de consumi-la, era algo viciante”,
conta o endocrinologista João César Castro Soares.
Excesso de chocolate: por ser um alimento muito calórico, pode
acabar em ganho excessivo de peso e até em obesidade. Há ainda problemas
indiretos, como um aumento no risco de desenvolver diabetes e problemas
cardíacos.
Açúcar – Festa de aniversário tem bolo. A inclusão de
verduras e legumes no prato da criança é recompensada com uma deliciosa
sobremesa. Segundo o endocrinologista João César Castro Soares, nossa
cultura tem ainda o hábito de gratificar situações de sofrimento e
estresse com... um doce. Se o açúcar já era responsável por uma sensação
de prazer – associada à produção de serotonina pelo sistema límbico
(emocional) -, ele tem ainda um efeito psicológico incutido na educação
quando ainda somos crianças. “É quase um antidepressivo, uma cura
momentânea para nossas angústias”, diz. De acordo com Soares, os
mamíferos em geral, mesmo aqueles que nunca sentiram o gosto doce antes,
são estimulados pelo açúcar. “Se você der um pedaço de doce para um
cachorro, ele vai ficar agitado e vai querer mais. Isso em função da
sensação de prazer que ele sente com esse alimento.”
Excesso de açúcar: além de estimular o ganho de peso e a
obesidade, aumenta as chances de se desenvolver diabetes e de
aparecimento de cáries. Algumas pessoas apresentam problemas gástricos.
Nota:
As recentes pesquisas simplesmente confirmam o que a autora americana
Ellen G. White já dizia há um século, Tal como neste texto: “O
café é uma satisfação nociva. Estimula temporariamente o cérebro a uma
ação desnecessária, mas o efeito posterior é exaustão, prostração,
paralisia das faculdades mentais, morais e físicas. A mente fica
enfraquecida, e a menos que, mediante esforço determinado seja o hábito
vencido, a atividade do cérebro é permanentemente diminuída” (Conselhos Sobre Regime Alimentar, pág. 421). Há também, outros textos, que podem parecer contraditórios em um primeiro momento: “Açúcar não é bom para o estômago. Causa fermentação, e isto obscurece o cérebro e ocasiona mau humor” (Idem, pág. 327).
Sendo que chocolate e outros tipos de doces são conhecidos por trazerem
uma sensação diferente da dita no texto, entendemos que a autora se
refere ao resultado final; como em várias pesquisas tem sido atestado, o
uso de chocolates e doces não só causa dependência, como também uma
depressão ou baixa auto-estima, após o consumo destes produtos. Levando
assim, então, a pessoa a buscar novamente a açúcar para que se sinta
bem, mesmo que seja ilusório e temporário o efeito. Assim começa o ciclo
vicioso (químico e psicológico). Será que aquela humilde senhora teve
uma revelação divina tão precisa que ainda não chegamos a compreender
totalmente seus conceitos que ainda nos desafiam? [M. Borges]
Nenhum comentário:
Postar um comentário